sábado, novembro 10

Tesouro

Confesso que guardei-me num baú por todos esses anos. Guardei comigo as lembranças e um coração estralado em meio a tudo que eu tinha como tesouro.

Só que nem todo tesouro é ouro. E o coração....ah, esse finou-se em ferrugem. Oxidou-me.

Não guardo mais nada, nem bijuterias. Nem vida. Minha única meta agora é inspirar vida e expirar-me em sentidos em sorrisos.

terça-feira, outubro 23

Pontas de um nó

Viver entre as duas pontas não é uma tarefa fácil. É um caminho solitário, porque não há estrada. Não se segue nada. Não se encaixa. Não se vive. Só desbrava. Dialoga consigo mesmo. Com as partes que se cabem, que se somam, que se confrontam.

Mais pontas se achegam. Se fundem. Confundem. O certo e o errado, o bem o mal, a religião e a ciência, o passado e o futuro, o novo e o velho, a razão e a emoção, o real e o insano. O real insano. Um só nó. Ou vários deles.

É doloroso e espantosamente prazeroso beirar entre um e outro. Beirar em si mesmo. Beirar uma compreensão inventada. Uma compreensão a todo tempo ameaçada. Gozar das delícias do "tudo" e amargar o ônus do mesmo "tudo ou nada".

A interrogação reina. Não dá resposta a nada e dá sentido a tudo. Me dá falta de ar. Me faz respirar.

Como entre todas as pontas eu me perco, também já me perdi entre o começo e o meio. Por ser insano, por ser difícil. Por ser um nó.

Ficar em cima do muro parece ser confortável, e muitas vezes é. Acho até que me perdi de propósito, pois não sou afeito a pontas. Apesar de ser um buscador, acho que não quero encontrar nunca. Quero ficar nesse nó.

quinta-feira, outubro 18

Reinvente-se

Dizem que reinventar-se é bom. Não sei ao certo se é bom ou apenas se é preciso.

Nos reinventamos todos os dias para enfrentar situações que não seriam devidamente enfrentadas se não fôssemos reinventados a todo momento por situações que precisamos enfrentar todos os dias.

Se é para reinventar, reinvente-se como queira. Reinvente-se do zero ou do 80%. Reinvente a reinvenção, mas reinvente-se. E se não reinventar direito, tente o esquerdo ou apenas tente de novo. E de novo. E novamente. Mas saiba que nunca ficará bom. Caso fique, não se alegre. Se entristeça ou se alivie. Porque só enquanto não for bom o suficiente, viverá.

Viver nada mais é que precisar reinventar-se. Do contrário, acabou.

Quando percebemos

Quando percebemos que a felicidade só existiu no passado, é como se o resto só fosse pôr uma perna em frente a outra.
Quando percebemos que o que temos de mais verdadeiro ficou no passado, é como se todo o resto fosse vivido por outro.
Quando percebemos que o melhor de nós ficou no passado, é como se todo o resto fosse ruim.
Quando percebemos que não somos nós mesmos, que somos ruins e infelizes, é porque estamos vivos e ainda nos percebemos.
E quando nos percebemos vivos, é porque ainda há vida.
E se há vida, há chaces de percebermos tudo diferente daqui alguns anos.

Rasguei-me

Quando me rasgastes, rasguei um pouco de ti. Rasguei a parte errada e rasguei mais de mim. E é rasgada que ainda muito me espanto ao perceber que sofrendo por ti, eu era mais feliz.

A lembrança mais bonita que tenho em mim

Guardo você. Aguardo o dia em que vai voltar e consertar o que quebrou. Aguardo algo que, milagrosamente, vai me desenterrar de minhas lágrimas. O dia em que vai ficar observando-me desentalar tudo o que ficou ferido. E quando eu não aguentar mais conter o pranto, vai juntar-se a mim, olhar bem nos meus olhos e dizer que tudo não passou de um mal - entendido. Descobriremos que fomos enganados por qualquer coisa que nos justifique, e por mais doloroso que seja, seremos felizes só por estarmos juntos, e isso nos bastará.

Aguardo todos os dias, até me dar conta que já desliguei a televisão e que já não espero mais nada. Nada além de um olhar dizendo: "Meu amor acabou, mas é a lembrança mais bonita que tenho em mim." E isso, talvez, enxugará meu travesseiro.

sábado, outubro 13

Ovo mágico

Parece que a maré está baixando de novo. Parece que se passaram 10 anos, e passaram. Eu cresci, mas nem meu coração, nem meus sentimentos, meus sonhos e nem meu paladar cresceram comigo. Aquele sopro parece ter congelado muito de mim.
Ontem a rosa não chegou inteira em casa. Fiquei triste ao perceber. Ao perceber que as pétalas foram caindo aos poucos sem que eu pudesse evitar. Ela desmanchou-se depois de chegar ao ápice de sua beleza. Como as lágrimas que seguem as gargalhadas.
Depois de conformada, sonhei. Ontem eu sonhei e fiz questão de continuar na cama. Sabe quando acorda mas volta a dormir para continuar sonhando? Faz parte do meu cotidiano. Mas hoje foi diferente. Derreteu um pouquinho de tudo aquilo que estava congelado.
O gelo também serve para conservar as coisas. Tem conservado a esperança daquela menina que eu sempre falo sem muita novidade.
Hoje estou me sentindo dentro de um ovo mágico!

Voltei!


Eu voltei. Sinto que voltei pra mim. É tão bom me sentir em casa! Tá meio bagunçada, tem que aparar as arestas, mas estou em casa. A reconheço. Reconheço uma pequena felicidade que há muito tempo não sentia. Meu Deus, eu voltei...nem acredito. Ponho a mão no meu rosto, está diferente da última vez que estive aqui, mas é muito bom me reconhecer até numa eventual lágrima que rola.

Os cabelos maltratados, o excesso de peso, os dentes mais no lugar, enfim...tudo diferente de como eu deixei, mas pretendo reorganizar!

Nunca pensei que alguém pudesse sentir saudade de si mesmo.

Ai que felicidade!

Vai dar um trabalhão pôr ordem nesse pardieiro, mas vale a pena.



Nem consigo escrever, de tamanha felicidade.

beijo

A Terra do Nunca Cessou


A insanidade está cochichando ao pé do ouvido. Talvez seja meu único momento de lucidez.


Terra do Nunca cessou. Os ponteiros dos relógios estão apitando. Acho que tá na hora de descobrir além da minha imaginação.

Tapar o Sol com peneira só tá esquentando mais. Basta! Vou acertar os meus momentos.

Visitar a realidade de vez em quando não é mais o suficiente. Chegou a hora de abandonar o barco.

Era a Lua

Lá estava eu. Pensando em milhões de coisas, sentada no banco especial, com a cabeça na lua, voltando de vez em quando pra ver se tinha que dar o lugar pra alguém..."Projeto, clima, vaga, sono, html, ele tá exagerando, tenho que escrever o conceito criativo, ligar para Adriana, acho que já tá chegando..."...um vulto para ao meu lado, interrompo meu pensamento pra ver se ela é especial, mas fico horas olhando. Os olhos claros sem cor definida destacando os cabelos laranjas, contrastando com a pele quase albina e o batom vermeeeelho, passado além do lábio, mas sem borrar. Não conseguia parar de olhar. Até levantava a cabeça sem disfarçar para entender o que estava embrulhado no cachecol verde e virava os olhos sem nem perceber. Aquela mulher me deixou alguma coisa que eu não sei.

Ela desceu num ponto, eu no seguinte. Olhava pra trás constantemente, para os lados, pra cima e pra baixo e não via ninguém, mas tinha alguma coisa. Andando até em casa, continuo aflita, para um carro cinza bem na hora que fui passar, passei e ele foi. Não entendi. As milhões de coisas voltavam misturadas com aquela sensação, interrompidas por uma garrafa de plástico verde amassada no meio da rua e um carro que passava sem um pedaço da frente. Ao virar a esquina, vinha aquele barulho do bairro, que nem me irritava mais porque mal conseguia olhar para os lados. Tinha alguma coisa, faltava alguma coisa, olhei cada degrau da escada para verificar se não tinham ratos e desci ofegante em segundos. A rua estava calma, um saia outro entrava, olhava para os lados e nada. Entrei, olhei pro céu mais uma vez, e segui minha vida como se tudo não passasse de esquisitisse minha.

Quando deitei a cabeça no travesseiro, já exausta de tudo, me dei conta que não tinha visto a Lua.

Chora


Os olhos estão avermelhados. É curioso que tudo em volta esteja com pintinhas, como se tivesse nascido em sardas. Sarda, arda, arde, ardida. Eureka! Ela nasceu ardida, assim como os olhos estão agora! Ardida demais pra diplomacia. Demais pra fala mansa. Demais. E isso não é um elogio. Olha aqui um equívoco! Demais não, demasiada. Demasiada não confunde elogio.

Chora menina. Chora que isso passa. Um dia passa. Espero que passe. Mas de qualquer maneira, alivia. Pelo menos deveria aliviar esta angústia. Angústia não, porque angústia é bonito de se escrever. Incompreensão, talvez? Acho que não. Dor? Perdição? Esse não, pode confundir com paixão e não é o caso.

Vai ficar feio se eu disser Eureka! de novo? Alarme falso, não encontrei nada que pudesse descrever essa...

Mas só de saber que dói, já é um avanço! Pelo menos dá pra chorar. Então chora.

Tá chovendo pra caramba

Nem as máscaras têm trazido o ar de volta. E o "vai dar tudo certo" não tem saido do verbo, quem sabe no futuro, mas preciso dele no presente, no meu presente. Tá tudo tão abafado quanto ônibus em horáro de pico, e não consigo sair desse engarrafamento, preciso de um atalho já! Ou não sei se vou aguentar, mesmo que eu finja não poder imaginar.

Eu que sempre amei os porquês, tenho os evitado, já que as incógnitas têm formado minha inútil segurança. Minhas esperanças.

E mais uma vez, esperando.

Plágio?


É impressionante como tudo o que leio me atinge. Me assusta. O que te parece psicar vermelho no porto de confidências e desinteresses ácidos? Pra mim, muito.Assim desarrumado, vasto, íntimo, tudo fora do mundo, no espaço, dentro de mim. Acredite, faz sentido aqui. Eles decifram e juntam as pontas do baralho, fazendo um ponto só pra eles, e eu nunca consigo entrar no jogo. Curto e direto. Poético.

Quando junto tudo isso, e descubro o que realmente quero falar, já virei plágio do que penso e a censura do que eu sinto. Caindo sempre no mesmo lugar, justificando, para convencer a mim mesma que manter isso aqui tem sentido, e tentando convencê-los a não me julgarem pelo que escondo, nem pelo que revelo. A não me julgarem pelo que sou. A não me julgarem. Pois já nasci em processo, e já escolhi meu juiz. O Juiz. O problema é que eu mesma sou a promotora e crio provas contra “eu” (não está errado, sou eu mesma. O mim não alcança meus delírios.), deixando que a defesa fique apenas por minhas lágrimas, que, com simples ameaça de caírem, revelam meus sonhos, desejos e dores. Lembram que sou humana, e tentam justificar o meu jeito de me existir. E mais uma vez.

Mindinhos

Todos os dias, sem intervalo, os dedos mindinhos sangravam. Era o preço que pagava por ter mindinhos tímidos. É, isso mesmo! Tímidos! Suas cabeças são para baixo e sempre entravam em atrito com o carpete. Hoje em dia só ando de chinelos em casa e é tudo azulejado, pois também atacava meu nariz. E, além disso, as únicas coisas que o machucam são sapatilhas em dias de chuva e raros saltinhos, só que esses também pegam atrás, aí viram bolhas quentes e dolorosas, mas enfim, só machucavam porque eu era feliz. Ai...éééé, não torce o nariz! É que eles entravam em atrito de tanto eu dançar em frente ao espelho que tinha no corredor da casa velha. Uma de quando eu era pequena, eu amava machucar meus dedos naquele carpete marrom. Que saudade. Apesar de tudo, lembrando agora, aquela casa tem muita história, muita mesmo. A gente mudou pra lá de verdade depois que a outra parte da família saiu, acho que eu tinha uns oito ou nove anos.
Tinha dois quartos, um dentro do outro, um banheiro gigantesco, dava até para brincar de pega – pega, a sala, a cozinha, com azulejos verdes com preto (hahaha, eram horríveis!), o corredor em frente ao banheiro, bem pequeno, com um espelho grande, que a gente tem até hoje, a lavanderia, um quartinho de bagunça, que eu não entrava nem por decreto, o quintal todo de cimento, também gigantesco, o portão azul e o jardim cheio de mato, só com um pé de cana e um de romã. E mesmo assim, eu acho que eu nunca comi romã...não lembro.
Na verdade, lembrei da casa muito por acaso. O que sinto falta mesmo é dos meus dedinhos machucados. Minha mãe ia dormir e eu continuava dançando, até eu deitar no sofá, pegar no sono e ir para cama. E isso toooodos os dias. Só sentia as consequências nas manhãs corridas e chatas dos meus dias.
Depois, eu dançava na sala, depois na sala do apartamento....até que aos poucos eu fui perdendo o ar e o meu tempo com responsabilidades. Mas é bom lembrar...só não gosto muito de ver meus mindinhos sem sangrar.

Covio


Desde muito tempo tenho pânico de cobra. Cobra bicho e Cobra gente. A bicho porque não tenho forças para lutar com ela. Não gosto de ver nem em filme/foto/desenho/sonho/qualquer coisa. Luta por comida, luta por vida. E a Gente? Não luta. Engana. Machuca. Por prazer. Por maldade. Por interesses. Tudo muito além do necessário. Os abrigo no meu nariz. Pior. Desfruto. Compartilho. Choro, mato e brigo. Me escondo na desculpa e gozo das diferenças entre mim e o mais pobre que eu. Somos crueis. Não somos bichos. Um covio. Pior. Somos Gente. Só literalmente.

Tenho medo de bicho. Tenho muito medo de gente.

Ela era assim

Vaidosa, alegre e rebelde. Cabelos encaracolados, olhos curiosos e bochechas rosadas. Apaixonada. Ela era assim. Se embebedou de ilusões e entregou até a última gota de um amor inocente e puro. Sofreu como se não existisse mais nada no mundo. Ergueu a cabeça. Afinal, só tinha 13 anos. Daquele dia em diante, viveu cada dia como ressaca de um porre que nunca tomou. Mas viveu.

Caminhos




 são 50 minutos dentro do ônibus e nem metade do caminho. Deveria ler algum dos muitos livros que tenho de ler, mas é de farol em farol que alterno essas palavras sem ânsia. Passando por uma placa "SAÍDA DE CAMINHOS", ou melhor,"SAÍDA DE CAMINHÕES". Por um instante pensei que existisse uma saída antes da Paulista e antes de levar uma bolsada na cara.

É difícil prestar atenção no caminho, também me dá ânsia, mas pra onde eu olho, vejo rostos e pensamentos escritos nas paredes, e cada vez mais penso que esse caos é apenas cenário da loucura que é ser só mais um existir no meio de milhões de existências. E que cada um tem sua história pra contar, mas sinto que minhas ideias estão escorrendo por entre os dedos. Alguém tem alguma sugestão? Porque a única coisa que sei é que gosto de identidade particular. De imaginar cada pessoa que me chama a atenção, como esse cara de óculos escuros que está ao meu lado no ônibus. Não sei se está dormindo ou lendo o que estou escrevendo. Bom, se for o segundo, já sabe que eu percebi. Espera, tenho que descer, quase perdi o ponto...

...estou esperando o segundo ônibus. Em frente, do outro lado da rua, tem um bordel, casa de  tolerância, ou como queira chamar. Sempre olho pra lá porque sempre têm situações curiosas na porta. Neste momento tem uma mulher, de baixa estatura, de cabelos bem crespos, bem crespos mesmo, com um blusão e o capuz na cabeça, suja e maltrapilha. Ela está torcendo a blusa, na altura do peito, de um cara de boné, com os braços cruzados olhando fixamente pra ela. Ela parece estar nervosa, está gesticulando com as mãos, como se tivesse ameaçando-o. Solta e segura a blusa dele várias vezes, sai e volta outras tantas. O ônibus está chegando, não dá pra ver direito, está lotado, mas eles estão um ao lado do outro encostados na parede, e continuam falando. Aos poucos vão se afastando...como qualquer outra história que não me pertence.


Foto por: Jules Itier

"Dirty Dance"


Não sei bem o que acontece comigo. Dentro. Acho que me coloco na pele da Baby, na do Billy Eliot, da menina de "Ela dança eu danço", ou apenas em uma das minhas. Tantas peles de um sonho. Sonho. Sou como a menina invisível. Em mim, a maior bailarina de todos os tempos. A invisibilidade é o figurino, o ritmo é o fogo que queima todo o corpo e o espaço...não existe. Não existem gravidade, pista ou pessoas. Não existe nada além dos dois: o ritmo e a menina. E quando surgem os aplausos e o filme acaba, ou quando a mãe chama na porta, trancada, do quarto, tudo volta a existir e restam apenas dois: a menina e o sonho. 


Tornarei-me visível...algum dia.

19 de mim


É. 19. Não mudou nada. Mas me fez pensar bastante. Não posso me dar ao luxo de aprender e renovarme só a cada ano. Não sou de tapinhas nas costas no Ano Novo e no Natal. Não gosto de compactuar com tanta hipocrisia. Eu quero renovarme a cada dia, a cada momento, a cada erro. Se deixar tudo pro final, fica muita matéria para aprender e não aprendo direito.

Ontem me dei o luxo de dormir até 10h. Brinquei de comidinha e preparei o almoço. Não é porque era aniversário que podia esquecer as responsabilidades, então fui resolver algumas coisas pendentes. Fui na igreja. Comi uns pedaços de pizza e um bolinho com minha mãe. Aproveitei para fingir que a gulodice só existe em dia de festa.

Eu não sei porque, têm pessoas que mal me conhecem, e já pensam que sou alguma coisa. Isso me preocupa...e se depois me acusarem de propaganda enganosa? Não sou nada. Ninguém. Só uma adolescente qualquer que escreve aqui por não pensar. A julgar por isto mesmo...roxo, fofinho, textos bobos, com as entrelinhas cheias de filosofia adolescente, barata, sem nenhuma cultura ou jeito com as palavras. Espero, realmente, que não tire conclusões por aqui, porque não penso. Mesmo.

As vezes não é tão bom ouvir que é orgulho para alguém, ou que é isso ou aquilo. Isso trás certas responsabilidades, e já estou lotada delas para adolescente. Porque é isso que sou. E depois não vai voltar...

Ficar em casa

23h. Chega a condução. Num empurra-empurra, consigo passar entre eles e entrar. Quase que decepcionada, encontro um banco, lá no fundo, lindo, azul claro com detalhes amarelos, o último deles. Com um momento de descanso nas mãos, minha cabeça ainda latia de medo da nota, mas aquele momento me dava um imenso prazer. Até que...lá vinha, de moleton verde escuro, de média estatura, em câmera lenta, ameaçava tirar algo do bolso...um objeto suspeito, muito parecido com um celular. Mas pera aí! Um celular não vem com fones? Sim, mas ele era cruel. Tirou do bolso, com um olhar fulminante, e apertou o botão. Um agudo de copo quebrando balançava minha paciência, que é tão firme como uma pirâmide de cartas. Latia, latia, batia no tímpano com martelo. E o que eu mais temia, aconteceu. Vagou o banco ao meu lado, e advinha...é isso mesmo. Sentou ao meu lado sem nenhuma dó, e passou música por música. O que matinha a pirâmide de pé, era a proximidade de casa. Desci. Um alto silêncio tomou conta de mim, até que meus olhos doeram com a luz ardente do semáfaro...não lembro de mais nada. Só da vontade de, pra sempre, ficar em casa.

Fugi de mim

Me disfarcei para fugir, e consegui. Agora, não consigo tirá-lo...dói mais do que se tivesse ficado e enfrentado. Com medo de quebrar a cara, quebrei muito aqui dentro. Mas vou sobrevivendo em mim, juntando os pedacinhos que eu mesma deixei aqui. Fugi de um lado, e fui para outro bem mais complicado. Há muito esqueci, mas também tinha esquecido de mim e parei num labirinto sem fim. Não era o que queria, mas o que ainda me guia é a luz que está acima, e aos poucos, vou encontrando o caminho de volta a mim.

Gota

Uma menina, eu sei. Até me ofende se me chamar de mulher. Bobagem? Talvez. Vontade de preservar a flor da meninice. Menina de sonhos. E foi aquele, o maior deles, que me veio acordada no caminho de casa. No caminho, parei na virada e dancei, dancei, dancei a noite toda. Tinha muita gente, mas estava sozinha em mim. Em minha plenitude de ser. No egoísmo do prazer. Até as unhas dançaram. Sentia o suor correndo por mim, como se estivesse no banho. Cada gota de emoção, eu senti. Uma delas caiu no teclado.


Minha lágrima, de menina dançarina, anda sonhando.

Laço


voltei...


depois de derreter muito, não se assuste com o que encontrar aqui, estou procurando uma fôrma legal para moldar o meu espaço, para que seja cada vez mais meu...


Pensando em textos que me estalaram nas madrugadas árduas de trabalho, mas que não podiam me ser escritos com pincéis marrons. Estou procurando-os. Acho que se perderam no mar doce da minha imaginação, ou estão presos nos laços do meu inconsciente...


Vamos ver se os encontro. Embrulharei num papel preto de bolinhas brancas, ou num liláz com um laço verde limão, para dar-lhes de presente do meu coração. Ou apenas deixarei desenhado no coração para que cada leitor o visite, e deixe-me sua marca.


Veremos...